quarta-feira, maio 25

Me aproximei, agachado e sorrateiro, torcendo silenciosamente para não ser visto. Keinan agachou-se ao meu lado, e sussurrou no meu ouvido algo como "avisei que era melhor termos ficado à salvo". Acho que era isso, mas eu não entendi muito bem. O forte barulho de máquinas trabalhando e o ranger de metais me enlouquecia. Voltei-me minunciosamente para o lado e fitei Keinan. Ela usava um moletom preto grande demais para seu corpo, com bolsos largos e um jeans apertado, abatido e furado. Não estaria mal vestida, desde que fosse ao velório de um mendigo dos becos do Brooklyn. Mas o que realmente chamara minha atenção foi o que ela estava tentando fazer. Keinan concentrava-se. Com a mão esquerda, empunhava sua espada, e com a direita, fazia um estranho gesto frente ao olho esquerdo. Eu já ouvira falar sobre os estranhos e perigosos poderes de minha irmã, e sinceramente não queria ficar lá para descobrir se os boatos eram verdadeiros.
De repente, Keinan começou a murmurar algo em Grego Antigo, e uma enorme muralha ergue-se além do horizonte, fazendo um barulho estrondoso. Todos os monstros que trabalhavam abaixo correram em direção à muralha, inclusive a Quimera. Voltei-me novamente para Keinan, impressionado. Ela virou-se para mim e disse:
- Nada demais. Só algumas técnicas de distração.
E que técnicas de distração! Keinan era impressionante!
- E então? - disse ela. - Vai ficar aí com essa cara de taxo o dia todo ou vai vir junto?
Quando dei por mim, ela já estava uns dez passos adiante.
- Ahn... Vou junto, sem dúvidas. - murmurei, parecendo um tanto quanto imbecil, eu acho.
À medida em que nos aproximávamos, o barulho das caldeiras tornava-se mais intenso. Olhei em volta, e constatei tudo aquilo que imaginara: soldas, máquinas, retalhos de metal, cabos de espada, e outras centenas de coisas que eu jamais tinha visto. Entre elas, estava uma escultura de uma linda mulher sendo talhada.
- É Atena. - disse Keinan. - A deusa da sabedoria deve oferecer-lhes inteligência em troca de homenagens.
Empalideci. Eu adorava Atena, e era seguro dizer isso porque eu já a conhecera pessoalmente. Não podia acreditar que ela estivesse ajudando a eles em troca de algo tão simples quanto uma estátua, ou escultura, seja lá o que for. Atena é sábia. Ela jamais permitiria que o mundo fosse destruído em troca de uma (ou algumas) escultura. Ela devia estar tramando algo, mas eu nem fazia ideia do que era.
De repente, Keinan pousou sua mão esquerda sobre meu ombro.
- CLAP! CLAP! CLAP! - aplaudia Alceu (o que, por sinal, significa "Homem Forte e Poderoso", o que não podia ser boa coisa). - Os pestinhas realmente acharam que poderiam invadir forjas inimigas sem serem notados?
Alceu estalou os dedos. Em alguns instantes, todos os monstros que haviam fugido para verificar a muralha estavam de volta, inclusive a Quimera. Alceu deu um breve sorriso sarcástico, e fez um "tsc, tsc, tsc" com a boca. Seus olhos brilhavam de emoção por ter nos encontrado. Eu podia sentir a maldade correndo em suas veias. Ele voltou-se para mim, e logo após para Keinan. Nós dois permanecíamos imóveis, até que ele quebrou o silêncio.
- Dessa vez vocês não me escapam, malditos semideuses!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Opiniões bem-vindas.