quarta-feira, agosto 18

Kamimi (Capítulo)

Eram duas horas da manhã. Eu achava que estava desaparecendo. Aquele  era um lugar terrível, tinha samambaias gigantes, insetos desconhecidos por mim, leões e falcões para todos os lados que meus olhos podiam ver. Pareciam estar com fome, mas eles não me atacaram. Tinha cavalos selvagens também. Eles tinham olhos peculiares. E como se não bastasse, palmeiras gigantes e céu nublado. Eu estava assustado e com medo. A propósito, havia cobras gigantes, também. Eu acho que eram serpentes. Elas tinham os olhos vermelho-sangue, e suas pupilas eram como riscos, cicatrizes. Mas, uma coisa chamou a minha atenção. Lá no meio dessa floresta, uma menina vestindo uma saia rosa, uma camisa que eu não sei direito como é, eu acho que era branca, com algumas imagens. Tinha uma franja que tapava seu olho esquerdo, e seus cabelos tinham mexas obscuras. Ela estava me cuidando. De repente, ela me olhou com aqueles seus olhos e disse:- "Estou de olho em você, irmão de meio-sangue."Eu dei um passo para trás. "Eu sou um irmão de meio-sangue? Como é possível? "- Pensei comigo mesmo. Olhei para ela e gritei:- Eu não te conheço! Como eu poderia ser o irmão de uma pessoa que eu nem sequer conheço?!Um sorriso apareceu em seu rosto. Então ela me olhou mais uma vez, e começou a rir. Após os risos terem parado, ela me disse, enigmaticamente:- "Você sabe que é verdade, Kuromi".Eu senti um aperto. Sem pensar duas vezes, eu gritei:- Quem é Kuromi? Eu sou Hoshi, você está louca?- "Eu pensei que você fosse menos burro..." - respondeu ela.
Eu não conseguia suportar tal situação. Enquanto ela me olhava e seus olhos  tomavam a forma dos olhos de uma cobra, um homem, de cabelos grisalhos, olhos vermelhos, pele clara e dentes afiados, que mais parecia um vampiro (apesar de que tenho certeza que não era), a chamou. Engraçado foi que ele primeiramente não citou o nome dela, apenas disse "Vamos". A garota, em sinal de respeito, respondeu:
- "Sim, mestre".
Na mesma hora, me toquei que Kuromi poderia ser o homem de cabelos grisalhos, até que...
- "Não, não é... Você deveria cuidar o que pensa, pois pode ter alguém lá para descobrir... Diga-me, por que é tão difícil aceitar a realidade?"
Meus lábios tremeram, e minha pele ficou fria. Seus olhos vermelhos penetravam minha mente, era como se ela soubesse o que eu pensava. Aqueles olhos... Por alguns instantes, me deu a vaga impressão de que ela continha fortes contrações nos olhos após ter "lido" minha mente. Arrisquei perguntar:
- Isso dói?
Ela me pediu o que doía. Então, pedi novamente:
- Utilizar seus olhos vermelhos... Por acaso isso dói? Você ficou estranha após dizer aquelas palavras...
Uma expressão de espanto tomou forma em seu rosto. A garota me indagou:
- "Como você sabe...?"
Eu respondi, com ar misterioso:
- Seus olhos me contaram.
A garota deu um breve sorriso, enquanto seus olhos vermelhos voltavam às suas formas originais (castanho-escuros). Deu-me a impressão de que seu olho esquerdo estava fechado por trás de sua longa franja, e notei que ela não o abriu em momento algum de seu pequeno discurso. Havia algum mistério por trás daquela franja. e eu queria descobrir. Outra coisa que me chamou a atenção é que algumas gotas de sangue escorriam de seu olho escondido por trás da franja. Além disso, ela carregava consigo uma espada, cujo cabo tomava a forma de uma serpente. Aquela espada era meio retangular, aparentava ser muito afiada, e tinha uma linha que a cruzava de ponta a ponta. Não sei se estou ficando louco, mas aquela linha parecia brilhar de tempos em tempos. Não resisti à tamanha tentação, e falei de uma vez...
- Sou Suketami Hoshi. Quem é você?
Ela me respondeu:
- "Hoshi? Ah tá, essa é boa..."
Eu repeti minha pergunta:
- Quem é você?
A garota sorriu sarcasticamente, e com um olhar macabro me falou:
- "Me dê dez dólares".
Eu achei que era brincadeira, até que ela estendeu sua mão direita... Aí percebi que ela era uma tremenda mercenária, isso sim! Entreguei o dinheiro em sua mão. A sínica garota se deu o trabalho de contar e recontar o dinheiro três vezes. Então, finalmente pedi:
- Quem é você?
Quando a garota ia me responder, o homem de cabelos grisalhos colocou a mão em seu ombro, alegando que ela já tinha falado demais. Eu enlouqueci, afinal, o que ele tinha a ver com aquilo? Ela deu um tapa nas mãos dele, e o olhou com uma cara que jamais vou esquecer. Voltei a perguntar:
- Quem é você? E que história é essa de irmão de meio-sangue?
A garota me respondeu:
- "Antes de calar suas dúvidas, me dê mais dez dólares, afinal há duas perguntas aí..."
Eu não acreditei no que tinha acabado de ouvir, mas dei o dinheiro assim mesmo. Após o término da contagem do dinheiro (que mais parecia um ritual, de tão minuciosamente contado), a garota finalmente me deu uma resposta prestativa:
- "Você é meio-sangue, porque é metade um deus e outra metade demônio. Você não sabe, mas essas duas forças lutam dentro de você para dominá-lo. Quanto a quem sou eu, sou Keinan, a lendária cavaleira da serpente, rainha da luz e das trevas, deusa da misericórdia e destruição. Sou a sombra que cala os gritos de quem devo, e luz que ajuda aos que precisam. Sou meio deusa e meio demônio também.  Tanto eu quanto você, somos a luz, tanto quanto somos as trevas. Somos raras obras-primas da natureza, nós somos Poltergeists!"
Por alguns instantes meu coração parou. Senti um forte aperto, como se alguém tivesse me atacado, algo que não havia acontecido, era apenas a dor da mais pura verdade. Talvez isso explicasse certos acontecimentos telecinéticos que ocorriam em minha casa. Eu era um mestiço do bem o do mal.
Mas, ainda assim, aquela garota não só era igual a mim por dentro, como por fora. Sua pele era igual à minha, seus olhos eram iguais aos meus, sua boca era igual à minha, seus cabelos, perfumados de rosas, tinham o mesmo cheiro do que dizem ser o cheiro  dos cabelos de minha falecida mãe. Eu nunca a conheci, nem a ela, nem ao meu pai.  Prestando mais atenção, notei que sua espada era totalmente igual à espada que havia em um quadro em minha casa. Pensei que aquela espada não existia. E mais, em uma foto no meu quarto, uma garota de cabelos escuros de aparentemente cinco a seis anos, me segurava no colo, sorrindo, enquanto eu ainda era bebê. Ela tinha uma franja longa tapando seu olho esquerdo. Eu engoli em seco, mas criei coragem de pedir:
- Qual o seu nome completo?  - perguntei à garota enquanto jogava mais dez dólares para ela.
Ela sorriu, e me respondeu:
- "Suketami Keinan".
Eu tremi. Quando ia falar com ela novamente, ela e seu mestre sumiram envolvidos em flores de cerejeira, conhecidas por Sakuras, que os arrodearam e fizeram-lhes desaparecer. O sol já estava nascendo. Depois disso, não me lembro mais de absolutamente nada...

sábado, agosto 14

Inverno

A estação fria, que congela a grande parte do que se vê, mas serve como porta de entrada para sensações diversas, variando de pessoa para pessoa. Cada um no imenso cosmo sabe o que sente no inverno. Muitos preferem guardar para si próprios, enquanto outros compartilham com os demais. Afinal, o inverno não passa de apenas outra estação, mas uma estação diferente por ser rica em sensações adversas e campeã na mistura de sentimentos opacos e felizes.A época mais bela do ano, é também a mais adorada por muitos, e mais detestada por tantos outros. O que ninguém pode negar é a magia que o inverno traz, que nem mesmo o mais profundo odiador dessa estação pode discordar dessa afirmação. E você, gosta do inverno?



Citação

Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto...
                                                        William Shakespeare